Deus e Kant

Pequeno ensaio produzido pelo acadêmico Lucas Sell Romão.

Immanuel Kant, nasceu em 1724 na Prússia Oriental em uma família de artesãos. Kant dedicou sua vida ao estudo de temas como ciência, filosofia, matemática e teologia. Durante sua vida, escreveu inúmeras obras, incluindo "Crítica da Razão Pura" (1781), "Crítica da Razão Prática" (1788) e a "Crítica do Juízo" (1790). Em sua obra “Crítica da Razão Pura”, o autor procura pontos importantes para a ciência, dentre eles os limites do conhecimento que podemos ter do mundo, investigações metafísicas, Deus, liberdade e imortalidade. Durante a leitura é possível fazer vários questionamentos e discussões, como por exemplo, o objeto de debate desse paper envolvendo ciência, conhecimento, razão e Deus.

Kant (2015), argumenta que o conhecimento humano se constitui de duas fontes principais: o conhecimento a priori e o conhecimento a posteriori. O conhecimento a priori é aquele que possuímos antes de qualquer experiência, sendo as noções puras do entendimento, aquelas que o indivíduo tem desde que nasce. Já o conhecimento a posteriori é adquirido por meio da experiência.

O conhecimento é resultado da interação entre o sujeito e o objeto de estudo, e para acontecer, a razão tem que conduzir a natureza com os seus princípios de um lado e o experimento no outro lado, para aprender com ela como um juiz faz com as testemunhas quando respondem as perguntas. Para Kant (2015, p.28), “a razão somente entende aquilo que ela mesmo produz segundo o seu projeto”, nesse sentido, somente alcança o conhecimento aquilo que pode ser registrado na experiência.

A crítica da razão pura reconhece o preceito básico do empirismo, onde todo conhecimento deriva da experiência e depende dela. Dessa forma, para conhecer um objeto, é necessário poder provar a sua possibilidade com a experiência (Revista Mente, Cérebro e Filosofia, 2005). Mas como é possível definir a experiência de Deus ou provar sua existência, já que isso seria metafisico e transcendental?

Para Kant, Deus não passa de uma necessidade da razão, onde Deus não é fenômeno e não é objeto de ciência, mas sim de crença. A crença é aquilo que é verdade para alguém e depende da autoridade transmitida ou revelada. Assim, Deus pode não ser conhecido, mas norteia as ações e condutas humanas. Hoffe (2005, p. 278-279), observa que para Kant, Deus não é “nem de longe um objeto do saber, do conhecimento objetivo, mas da esperança, certamente não de uma esperança exaltada, mas de uma esperança fundada filosoficamente”.

A criação de Adão

As ideias de Kant geram uma grande disputa entre ciência e religião (Deus), e quanto mais avançamos em direção a um mundo mais tecnológico e científico, as questões levantadas por Kant sobre a existência de Deus e os limites do conhecimento continuam a ser debatidas. De fato, conhecer ou conceituar Deus não é tarefa fácil, nem mesmo livros religiosos conseguem definir exatamente o que seria e como seria Deus, sendo algo bem subjetivo e pessoal.

Na Bíblia, por exemplo, é possível observar como Deus é algo metafisico e transcendental em vários momentos. Em Romanos 1:20, observa-se que Deus está presente desde “a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis”. Allan Kardec considerado por muitos o inventor do espiritismo, em seu livro A Gênese (2013), inicia convidando a ciência a constituir a gênese segundo as leis da natureza e apresentando que Deus prova a sua grandeza e poder pela imutabilidade das suas leis e não pela derrogação delas. Em seguida, apresenta que:

Lançando o olhar em torno de si, sobre as obras da Natureza, notando a providência, a sabedoria, a harmonia que gerem essas obras, o observador reconhece não haver nenhuma que não ultrapasse os limites da mais poderosa inteligência humana. Ora, desde que o homem não pode produzir tais obras, é que elas são produto de uma inteligência superior à Humanidade, a menos que alguém sustente que há efeitos sem causa (Kardec, 2013, 50).

Dessa forma, para muitos, Deus pode não passar de um mito decorrente, muitas vezes do medo da morte e do desconhecido. No entanto, pode ser algo que nem a razão nem a experiência conhecem contrariando Kant quando tenta mostrar que só é possível conhecer as coisas que se apresentam aos nossos sentidos e à nossa experiência. Diante o exposto por Kant e do que apresenta Allan Kardec, fica a pergunta: poderia Deus ser algo que não conhecemos pois ainda não temos conhecimento suficiente para isso?  


REFERÊNCIAS:

 

BIBLIA, Romanos 1:20. Português. In: Bíblia sagrada. Versão online.

HÖFFE, O. Immanuel Kant. Trad. Christian Viktor Hamm e Valério Rohden. São Paulo: M. Fontes, 2005.

KANT, I. Crítica da razão pura. 4.ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2015. p.17-68.

KARDEC, A. A gênese / por Allan Kardec; [tradução de Guillon Ribeiro da 5a ed. francesa]. – 53. ed. 1. imp. – Brasília: FEB, 2013. 409 p.

Revista Mente, Cérebro e Filosofia Kant- Hegel v. 3, jan 2005, p. 1-17.


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