A Participação das Mulheres na Ciência Sob a Abordagem de Pierre Bourdieu

Pequeno ensaio produzido pela acadêmica Ligia de Godoy

A inserção das mulheres no campo científico se deu, ao longo do tempo, em um cenário de lutas constantes. Da proibição em produzir ou aplicar conhecimento científico, que as desprezava e até perseguia, aos obstáculos ainda hoje encontrados, sabe-se que é um campo de desafios. Esses desafios podem ser relacionados a uma ordem científica estabelecida e suas estratégias para manter a autoridade dos dominantes e a estrutura já consolidada. Por se tratar de um campo historicamente masculino e segregador, as mulheres tiveram, e ainda têm, dificuldades em adentrá-lo, sofrendo, também, com um atraso considerável. As origens desses desafios encontram correspondência nas concepções de Pierre Bourdieu sobre o campo científico, suas lutas, interesses e estratégias. O presente ensaio busca, portanto, refletir a respeito da presença das mulheres na ciência, a partir dos conceitos de Pierre Bourdieu (2013) sobre o campo científico e suas variáveis.

Bolzani (2013) traz a imagem simbólica da quinta edição da Conferência de Solvay (Figura 1), ocorrida na Bélgica, em 1927, na qual aparecem os 29 participantes, principais representantes daquele momento tão significativo da ciência. Estavam entre eles dezessete ganhadores do Prêmio Nobel, inclusive Albert Einstein e Niels Bohr, além da única mulher a aparecer na representativa imagem, Marie Curie. Marie Sklodowska Curie foi uma física e química polonesa, naturalizada francesa, cuja história inspirou e inspira mulheres a trilhar o rumo da ciência. Ganhadora duas vezes do Prêmio Nobel, Curie foi a primeira mulher agraciada com o prêmio, e a única pessoa até hoje a recebê-lo por descobertas em duas áreas científicas distintas, física e química (BOLZANI, 2013). Ainda que seja reconhecida a importância de Marie Curie na ciência, não se pode ignorar a pequena expressão das mulheres no campo científico, visto que se encontrava sozinha em meio aos homens, naquele momento tão significativo que foi a revolução científica do início do século XX. Bolzani (2013) destaca, ainda, que, nos 90 anos seguintes à conferência mencionada, apenas 16 dos 320 prêmios Nobel, das áreas de física, química e medicina, foram concedidos a mulheres.

Figura 1 - Registro dos participantes da quinta edição da Conferência de Solvay

Fonte: BOLZANI, 2013, p. 57.

O campo, como tratado por Bourdieu (2013), pode ser entendido como um locus – espaço – onde ocorrem lutas concorrenciais entre os atores, estimuladas por interesses específicos típicos da área em questão. O campo é, assim, um locus caracterizado pelo consenso. No caso do campo científico, os interesses giram em torno dos monopólios da autoridade e da competência científica. Reforça-se, então, a presença de uma forma específica de interesse, que se volta tanto ao trabalho, como ao que dele irá retornar ao pesquisador – a autoridade científica, usualmente na forma de reconhecimento. O que está em jogo nessa luta é o poder de impor uma definição de ciência, dos seus problemas, métodos e teorias, visando ocupar uma posição dominante no campo científico. A autoridade científica é tida por Bourdieu (2013) como uma espécie de capital social, que confere poder sobre os mecanismos constitutivos do campo, podendo, ainda, ser reconvertida em outras espécies de capital ou reinvestida. Quanto maior a autonomia do campo, mais os produtores tendem a ter como clientes os seus próprios concorrentes, dos quais irão esperar o reconhecimento tão almejado. O reconhecimento é, como trazido por Bloor (2009), o direito à propriedade do cientista. O autor relaciona o reconhecimento ao princípio que chama de “comunismo”, segundo o qual as descobertas da ciência decorrem da colaboração social orientada para a comunidade. Bloor (2009), a exemplo de Bourdieu (2013), reforça a importância de se reconhecer a herança cultural e a natureza cooperativa e acumulativa da ciência.

A participação das mulheres na ciência, desde os séculos XVI e XVII, deu-se de uma forma camuflada, escondida, já que o conhecimento que produziam não era considerado científico pela ordem social vigente (CARVALHO; CASAGRANDE, 2011). A partir do século XIII, as mulheres passam a ser proibidas de praticar a medicina, não podendo também frequentar escolas, universidades ou bibliotecas. Tomando como exemplo a situação brasileira, a primeira grande lei educacional, de 1827, permitiu que as mulheres frequentassem escolas elementares, porém com programas diferentes entre meninas e meninos. As meninas aprendiam tarefas domésticas, como costura e bordado, enquanto recebiam lições limitadas de matemática, por exemplo. Considerava-se que não tinham um raciocínio tão desenvolvido, e deveriam aprender tarefas que facilitassem o cuidado doméstico, para que os maridos não precisassem se preocupar com isso (SENADO, 2020). Foi apenas em 1879 que as mulheres brasileiras tiveram autorização do governo para frequentar instituições de ensino superior, de forma ainda pouco expressiva e criticada pela sociedade. No resto do mundo, a situação não era diferente. O acesso das mulheres aos estudos universitários se dá de forma mais significativa apenas a partir do século XIX, e ainda mediante barreiras e preconceitos. O desenvolvimento tardio das mulheres na ciência interfere na acumulação do seu capital científico (BOURDIEU, 2013). Ainda, o capital científico acumulado pelas lutas anteriores nesse campo é predominantemente produzido por homens, o que poderá influenciar a distribuição desse capital atualmente, o qual viabiliza – ou não – as estratégias e as chances das pesquisadoras. Tem-se, portanto, de forma cíclica, como é a própria acumulação de capital científico, uma relação entre o capital acumulado, os recursos disponíveis, o lucro/reconhecimento (também em forma de títulos e carreira) e um reinvestimento, que irá possibilitar novamente o processo de produção do conhecimento. 

A luta científico-política por legitimidade está sujeita à estrutura do campo, que se situa entre dois polos, jamais alcançados plenamente: um monopólio e uma concorrência perfeita, com igual distribuição de capital. Em toda estrutura estão os dominantes e os dominados, cujo capital é proporcional à importância dos recursos científicos acumulados no campo. Têm-se, portanto, estratégias opostas entre os dominados/aspirantes e os dominantes. As estratégias estão sujeitas à sua posição no campo e ao capital científico de que dispõem. Os dominantes aderem às estratégias de conservação, buscando manter a ordem científica estabelecida que os consagrou a dominantes. A estrutura do campo científico é dependente, então, das relações de força entre seus membros, sejam eles agentes ou instituições, em luta concorrencial constante. As condições dessas relações de força derivam, ainda, do capital científico acumulado em lutas anteriores. Essa ordem compreende o que Bourdieu (2013) chama de “ciência oficial”, que seria composta pelo conjunto de recursos científicos herdados, em estado objetivado (instrumento, obras e instituições) e incorporado (hábitos e esquemas de percepção, apreciação e ação) e pelas instituições encarregadas da produção e circulação dos bens científicos e da reprodução dos produtores. No campo científico, considerando a proibição de mulheres na ciência por muitos anos, pode-se associar os cientistas homens a um papel dominante, aderindo a uma estratégia de conservação, de modo a manter a ordem científica estabelecida. Essa ordem tem a tendência de se perpetrar entre seus similares, contando, ainda, com um conjunto de recursos científicos herdados robusto e singular. 

Mesmo em meio a tantos obstáculos, as mulheres produziram conhecimento científico ao longo dos séculos, sendo esse conhecimento incorporado em diversas áreas. Isso era feito, porém, de forma improvisada, dentro de suas casas ou escondidas, e divulgando suas descobertas com o nome de seus familiares ou maridos homens, enquanto não lhes era permitido fazer ciência, por serem mulheres (BOLZANI, 2013). É notável, então, a limitação do direito de entrada das mulheres, esse tipo de censura que Bourdieu (2013) coloca, e que se torna mais difícil à medida que se acumulam os recursos científicos. Condições de acesso ao campo científico, como o sistema de ensino, aumentam recursos acumulados e, com eles, capital necessário para sua apropriação. Essa acumulação demanda, então, um maior capital incorporado do pesquisador para ter acesso aos recursos científicos, materializados na forma de problemas e instrumentos. A entrada tardia das mulheres no campo científico, que conta com um capital já acumulado por homens, faz com que elas acessem esse campo já em desvantagem. Ainda, a prática científica de forma camuflada, compulsoriamente anônima, tirou dessas mulheres o direito à visibilidade, que está atrelado à busca pelo reconhecimento.

Carvalho e Casagrande (2011) reforçam a importância de destacar as conquistas das mulheres no campo científico, ao longo dos anos, a despeito dos desafios e obstáculos enfrentados. O acesso às universidades está, hoje, aberto às mulheres, e essas já são maioria em determinados países e instituições. Há de se considerar, porém, as diferenças em relação à participação de homens e mulheres, em função das áreas de conhecimento. É comum que as mulheres sejam maioria nas ciências da saúde, educação e humanas, enquanto sua participação cai expressivamente nas ciências exatas, como nas áreas de tecnologia e engenharias. Silva e Ribeiro (2014) afirmam que, mesmo que se tenha uma maior participação das mulheres atualmente no espaço científico, é preciso verificar também as posições dessas na hierarquia acadêmica. As autoras mencionam, com base em dados de 2010, que o número de mulheres diminui à medida que a hierarquia aumenta, sendo as posições mais altas usualmente ocupadas por homens. Segundo essas autoras, ainda, é preciso considerar as barreiras de acesso a esses níveis mais altos, decorrentes da estrutura ainda patriarcal da sociedade, que designa às mulheres uma série de tarefas e obrigações a mais. Silva e Ribeiro (2014) buscaram, então, compreender as trajetórias acadêmicas e profissionais de mulheres cientistas de diferentes áreas, a partir de entrevistas. Aparecem nas entrevistas questões sobre preconceito e atribuição de papeis e padrões provenientes do gênero, além daquelas relacionadas às diferentes identidades que a mulher exerce, dividindo-se entre o papel de cientista/profissional e o de mãe/mulher/esposa. A necessidade de adesão ao que as autoras chamam de “modelo masculino de ciência” pode levar as mulheres a um sentimento de culpa ou remorso, pela atenção despendida ao trabalho acadêmico, em detrimento do cuidado dos filhos, levantando discussões também acerca do adiamento da escolha de ser mãe. 

É notável a evolução da presença feminina no campo científico, após séculos de lutas e desafios. Hoje as mulheres ocupam, quantitativamente, posições similares ou até superiores às dos homens nas universidades. Porém, é possível perceber, ainda, desigualdades e barreiras, especialmente em posições superiores hierarquicamente, e em áreas específicas, como as ciências exatas. O ingresso tardio das cientistas mulheres e a desigualdade histórica de oportunidades prejudicou o seu acúmulo de capital científico e, por sua vez, o acesso aos recursos científicos de que necessitam para obter o reconhecimento almejado no campo. Dificultou, e ainda pode dificultar, também, o seu direito de entrada, pelo qual se identifica uma ordem científica estabelecida com base na prevalência masculina nesse campo. É necessário, então, reconhecer os mecanismos sociais que asseguram a manutenção dessa ordem, e os interesses por trás deles, buscando, caminhar, cada vez mais, para uma participação mais equilibrada entre homens e mulheres na ciência, sobretudo nas posições dominantes.

REFERÊNCIAS
 
BLOOR, David. Conhecimento e imaginário. São Paulo: Editora Unesp, 2009. 
BOLZANI, Vanderlan da Silva. Mulheres na ciência: por que ainda somos tão poucas? Cienc. Cult. [online], v. 69, n. 4, p. 56–59, 2013. 
BOURDIEU, Pierre. O campo científico. In: ORTIZ, R. (Org.). A sociologia de Pierre Bourdieu. São Paulo: Olho d’Água, 2013. 
CARVALHO, Marilia Gomes de; CASAGRANDE, Lindamir Salete. Mulheres e ciência: desafios e conquistas. Revista Internacional Interdisciplinar INTERthesis, v. 8, n. 2, p. 20–35, 2011. 
SENADO, Agência. Para lei escolar do Império, meninas tinham menos capacidade intelectual que meninos. 2020. Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/arquivo-s/nas-escolas-do-imperio-menino-estudava-geometria-e-menina-aprendia-corte-e-costura>. Acesso em: 1 nov. 2021. 
SILVA, Fabiane Ferreira da; RIBEIRO, Paula Regina Costa. Trajetórias de mulheres na ciência: “ser cientista” e “ser mulher”. Ciênc. Educ, v. 20, n. 2, p. 449–466, 2014. 


Revolução Copernicana de Kant: contribuições para a pesquisa contemporânea

Pequeno ensaio produzido pela acadêmica Karina Francine Marcelino

As teorias do conhecimento até o século XVII não colocavam em dúvida a possibilidade de conhecer a realidade tal como ela é. Após isso, a partir das influências do Renascimento, os questionamentos quanto ao modo de como o conhecimento é adquirido pelo ser humano deram origem às teorias empiristas e racionalistas. 
Esse debate, denominado Revolução Copernicana da Filosofia, tinha de um lado os racionalistas o qual acreditavam que todo o conhecimento seguro provinha da razão, ou seja, não pelas experiências vivenciadas pelo ser humano de modo que “penso, logo existo” (René Descartes) e do outro lado os empiristas que acreditavam que todo conhecimento provinha das sensações, ou seja, o conhecimento é fruto das experiências e experimentações de modo que o “homem é uma tábula rasa” (John Locke). 

Discordando de ambas as doutrinas Immanuel Kant propõe uma opção metodológica que se contrapõe tanto ao empirismo quanto ao racionalismo: o Criticismo Kantiano. Para Kant o conhecimento só é possível pela junção das suas fontes: a sensibilidade e o entendimento. E essa compreensão só foi possível, pois Kant reavaliou toda essa dicotomia (racionalistas e empiristas) desde o seu ponto de partida e fez uma crítica do conhecimento como se isso nunca tivesse sido feito antes. Mesmo percebendo que tanto o racionalismo quanto o empirismo tinham verdades reconhecidas ele percebeu também que ambas não podiam ser admitidas sem ressalvas, em caráter absoluto. Para Kant, ambas as doutrinas não consideram o papel ativo da pessoa no processo de aquisição do conhecimento. E é nesse ponto que surge essa abordagem epistemológica alternativa a qual faz uma conciliação entre essas duas teorias, uma síntese transcendente. 

Essa mudança de perspectiva ficou conhecida como Revolução Copernicana de Kant, pois promoveu uma revolução na maneira de entender como o processo de aprendizagem acontece, compreendendo a relação entre o sujeito e o conhecimento e superando tanto o racionalismo e o empirismo, quanto o dogmatismo e o ceticismo. A Revolução Científica de Kant só ocorreu, pois, a nova teoria proposta por ele implicou em mudança das regras que governavam a prática anterior, ou seja, teve como pré-requisito a crise dos paradigmas empiristas e racionalistas (KUHN, 2013).

Diante disso, neste paper busca-se compreender as contribuições da Revolução Copernicana de Kant para a pesquisa contemporânea. O argumento central é que o pensamento Kantiano abriu espaço para uma pesquisa que considera o idealismo, as pré-noções e o conhecimento a priori e que devemos compreender isso para enfrentarmos as complexidades presentes na pesquisa contemporânea.
Para fins de melhor compreensão o presente paper será estruturado da seguinte forma: uma breve contextualização da vida de Kant e o cenário histórico em que suas pesquisas foram escritas; em seguida uma análise dos principais argumentos trazidos pelo pensamento Kantiano e; por fim o legado da Revolução Copernicana de Kant para a pesquisa contemporânea.

Immanuel Kant nasceu em 1724 na Prússia Oriental, onde hoje está localizada a Alemanha. Kant nasceu em uma modesta família de artesãos e teve uma educação com o rigor próprio do pietismo (movimento religioso radical que surgiu do protestantismo). Kant estudou ciência, filosofia, física e matemática. Influenciado por David Hume e Rosseau o que interessava a Kant eram o saber e a pesquisa, não a carreira, nem a fama ou as riquezas. Considerado um dos principais filósofos da era moderna, as produções filosóficas do autor dividem-se em três momentos: o período pré-crítico, antes de desenvolver o criticismo, quando adotava uma filosofia mais dogmática e racionalista. Em seguida o momento crítico, quando escreve suas obras mais influentes, como: Crítica da Razão Pura (1781), Crítica da Razão Prática (1788) e Crítica do Juízo (1790). E por fim, o período pós-crítico, quando o filósofo já havia se tornado conhecido e respeitado por suas produções intelectuais. Nos últimos anos de sua vida, Immanuel Kant ficou quase cego, perdeu a memória e a lucidez e veio a falecer em 1804.

No cenário histórico mundial o criticismo surgiu entre os séculos XVII a XIX, em uma transição para a modernidade. Estava na época das Revoluções e havia uma crise do colonialismo português, espanhol e inglês. A Revolução Industrial modificou as relações de trabalho sociais e políticas na Europa e na ciência temos a evolução da matemática e da física e influência da metafisica (questionada). E o projeto crítico Kantiano surge com o intuito de: (1) investigar o conhecimento – Crítica da Razão Pura; (2) investigar a moral – Crítica da Razão Prática; e (3) investigar a estética – Crítica do Juízo.

A obra Crítica da Razão Pura (1781) de Kant, surgiu com o intuito de delimitar os limites do conhecimento que podemos ter do mundo e decidir sobre a legitimidade das investigações metafísicas sobre Deus, a imortalidade da alma e o mundo. Ou seja, examina os limites da razão quanto às possibilidades a priori do conhecimento. Kant afirma que o conhecimento é resultado da interação entre o objeto de estudo e o sujeito e tem como ponto de partida o interesse do indivíduo em aprender sobre o objeto, ou seja, o sujeito é a peça principal em uma relação cognitiva. Para Kant, a razão tem que dirigir a natureza com os seus princípios numa mão e com o experimento que concebeu neles na outra para aprender com ela não na qualidade de aluno, mas de juiz que força as testemunhas a responder às suas perguntas.

Dessa forma, é possível traçarmos um paralelo com o interpretativismo. Segundo Saccol (2009) a ontologia interpretativista verifica que a interação sujeito-objeto não considera a existência de uma realidade totalmente objetiva, nem totalmente subjetiva, mas sim, que existe uma interação entre as características de um determinado objeto e entre a compressão que os sujeitos criam a respeito desse objeto por meio da intersubjetividade. Ou seja, é possível inferir que o conhecimento sobre a realidade depende das práticas humanas e é construído por meio da interação entre as pessoas e o mundo.

Nesse ponto, é possível estabelecermos um olhar reflexivo, pois ao afirmar que é a mente humana que produz a imagem das coisas - conhecimento não é um mero reflexo dos objetos – Kant vai ao encontro do que preconiza Demo (1985) o qual afirma que os objetos existem “por si”, podendo ser percebidos como tal, e essa percepção não se trata apenas de mera descrição do objeto, uma fotografia, mas sim uma objetivação do fenômeno. Da mesma forma quando Demo (1985) em “Demarcação Cientifica” afirma que objeto construído é diferente de objeto inventado. Em ambas as situações o pensamento de Kant dialoga com o pensamento de Demo. Dessa forma, entende-se que a ciência se relaciona com o sujeito e que trabalha com uma realidade construída. 

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Indo ao encontro do que alega Saccol (2009) quanto a importância de compreendermos os paradigmas de pesquisa, ou seja, crenças e pressupostos que temos sobre a realidade, ontologia e epistemologia, observa-se que essa perspectiva prevista no criticismo Kantiano se aproxima da ontologia resultante de uma construção social, ou seja, realidade intersubjetiva abordada por Saccol, pois para Kant a ênfase está no sujeito, porém com interação com o objeto. Além disso, a epistemologia construtivista - forma pela qual acreditamos que o conhecimento é gerado – relaciona-se bem com o pensamento de Kant: não é possível conhecer como conhecemos, mas, sim, podemos especular formas pelas quais tornamos reais nossos conhecimentos e, a partir dessas construções ideais, podemos presumir os meios pelos quais articulamos nossa convicção. Ou seja, verdades e significados só passam a existir a partir do engajamento do sujeito com o mundo (SACCOL, 2009). 

Ao contrário do empirismo e do racionalismo, que defendem que o conhecimento é fruto exclusivamente da experiência e da razão, respectivamente, Kant afirma que o conhecimento parte da experiência e da razão e propõe que os indivíduos possuem dois conhecimentos, dividindo-os em: conhecimento a priori e a posteriori. O primeiro - a priori - é o conhecimento anterior à experiência, são as noções puras de entendimento, aquelas capacidades que o indivíduo tem desde que nasce, depende da razão e não da experiência. O segundo - a posteriori - é o conhecimento que vem após a experiência. A partir dessa estruturação, Kant resolve o impasse entre Descartes e Bacon, sugerindo que os indivíduos têm um conhecimento e uma forma de entendimento que é inata e que esse conhecimento interage com o conhecimento que é fruto das experiências. Em síntese, tendo em vista que a epistemologia é a forma pela qual acreditamos que o conhecimento é gerado (SACCOL, 2009), depreende-se que a forma de acessar o conhecimento para Kant é feito a partir desses dois conhecimentos e que ambos podem coexistir.

Conforme Japiassu (1991) em “Introdução ao pensamento epistemológico” o pré-saber, as opiniões primeiras ou pré-noções, conhecidos como episteme, tem uma relação com o saber a partir de categorias epistemológicas. Antes de um saber propriamente dito sempre há uma primeira aquisição ainda que não científica de estados mentais já formandos de modo natural ou espontâneo. Então é possível compreender que quando o Kant afirma que o conhecimento a priori interage com o conhecimento a posteriori relaciona-se à concepção de conhecimento proposta por Japiassu (1991) o qual afirma que conhecimento são construções/atividades sociais em um determinado contexto sociocultural (conhecimento a posteriori) e que tem como pano de fundo conceitos ideológicos ou filosóficos (conhecimento a priori). 

Soma-se a isso a compreensão sobre como o entendimento e a sensibilidade atuam na produção do conhecimento humano. Kant conceitua os julgamentos e conclusões a partir dessas faculdades. Considerando que os juízos dão a formação do conhecimento que temos, Kant relaciona os juízos a essas formas de conhecimento. Um juízo em que o sujeito já carrega todo o conhecimento que encontramos no predicado, ele é conhecido como analítico (a priori). Mas quando faço um juízo em que um predicado é acrescentado ao sujeito, ele é chamado sintético (a princípio, a posteriori). Qualquer juízo advindo da experiência é sintético, já que é um juízo que depende dos sentidos. Porém, Kant afirma que existem juízos sintéticos a priori quando o predicado não tem identidade com o sujeito e não se faz necessária uma experiência para fundamentá-lo. Esse juízo sintético a priori configura uma tentativa de ligação da experiência com a razão pois permite o surgimento de um conhecimento novo a partir da experiência e estabelece a universalidade do fenômeno experimentado. 

Paralelo a isso, Kant relacionará a sensibilidade com a estética transcendental e o entendimento com a lógica transcendental. Estética transcendental é a doutrina que estuda as estruturas da sensibilidade, o modo como o qual o homem forma seu conhecimento sensível (estuda a estrutura da sensibilidade), a capacidade de adquirirmos conhecimento de acordo com a sensibilidade. A lógica geral (denominada como pura) é o entendimento que independe da intuição, ela não estabelece um vínculo a investigar a origem dos objetos, por isso trabalha com formação de conceitos a priori. Por sua vez, a lógica transcendental estuda a origem dos conceitos e se ocupa dos conceitos que se referem a priori dos objetos; é a ciência de todos os princípios; diz respeito ao entendimento, a organização do pensamento; é formada a partir da intuição. O nosso pensamento produz uma ciência de regras próprias, de uma lógica geral para uma lógica transcendental. 

Corroborando com o pensamento de Kant - modo como um conhecimento se relaciona com os objetos é a intuição, porém, apenas é através da sensibilidade que nos são fornecidas essas intuições - Kuhn (2013) afirma que os sujeitos são constituídos do paradigma vigente até então, o olhar nunca é isento de julgamentos. Toda intuição que se relaciona com o objeto através da sensação, é empírica. E por meio do empirismo, ou seja, da experimentação (acertos e erros) é possível fazer surgir os axiomas (valores e/ou juízos morais) dos experimentos (BACON, 1979). 

Fonte: Google Imagens https://marcosramon.net/aulas/apostila-filosofia-2ano-1

Kant vai além das relações entre intuição e sensação. Todo objeto que não passa por uma intuição empírica, ele chama de fenômeno. O fenômeno é composto por matéria e forma. Matéria corresponde as diversas formas de sensações ao entrarmos em contato com um determinado objeto e forma diz respeito aquilo pelo qual o objeto tem de diferente, a sua própria forma e composição. Quando retiramos as nossas recepções de sensações sobre objeto, como cor, divisibilidade, durabilidade etc., nos resta a forma pura, denominada pela extensão e pela figura. Ou seja, restará o espaço e o tempo. 

O conceito de espaço não pode ser adquirido pela experiência, pois a priori já temos a noção de que as sensações se encontram externamente, fora de nós. Se tentarmos retirar qualquer objeto do lugar, perceberemos que o espaço continua a existir. Porém, não há como representar a ausência do espaço, por isso, ele existe independente dos objetos que o preenchem. Só existe um único espaço, ou seja, o que vemos e presenciamos são diversos lugares de um mesmo espaço. O tempo também está a priori e também existe apenas um tempo, porém também não é um conceito derivado de experiência, pois existe independente dela. A sua diferença em relação ao espaço é o que identificamos internamente e não externamente. Por fim, o tempo permanece em suas diferenças sucessões, o que se transforma são os objetos de acordo com as nossas intuições internas.

Por isso que para Kant, Deus e a alma não podem ser conhecidos porque não aparecem como fenômenos no espaço e no tempo. A liberdade não pode ser matéria de conhecimento pois não tem causa, contrariando o princípio de causalidade. Isso faz todo sentido, pois seguindo todo o postulado de Kant a existência de Deus e a alma não são comprovadas, porém a razão nos faz acreditar.


Em 1788, a Crítica da Razão Prática visa dar continuidade à investigação crítica de Kant acerca dos princípios da moral. Nesse aspecto, Kant analisa as condições de possibilidade para uma moral com pretensão universalista e apresenta o imperativo categórico, forma da lei moral para uma vontade imperfeita. Ou seja, é nessa obra que o filósofo discorre sobre os limites dos princípios morais já fundamentados a priori na razão. Indo de encontro com Aristóteles, Kant acreditava que a felicidade era passageira e, por isso, dividiu seu estudo em imperativos hipotéticos e categóricos. Os hipotéticos são os movidos pela paixão e entusiasmo, enquanto os categóricos dizem respeito a ações movidas pela razão, que precisamos pensar, e é aqui que a ética Kantiana se encontra.

Enquanto o imperativo hipotético está atrelado ao fim, desejado por aquele que age, facilitando assim a decisão de qual a ação correta a se tomar, e uma vez que o agente não tenha interesse em realizar aquele fim, ou não esteja disposto a ação necessária para realizá-lo, não existe qualquer obrigação de segui-lo. O imperativo categórico é a ideia central formulada por Kant para que se possa analisar o que motiva a ação humana e compreender a moral e a ética. O modo como um indivíduo age com base em princípios que gostaria de ver aplicados é a máxima e poderá se tornar o que ele chama lei universal. O imperativo categórico é tomado então como um fato da razão, a revelar como essência sua a liberdade da vontade, liberdade que é assim compreendida como autonomia. Para Kant, o imperativo categórico é o agir de tal modo que a máxima da tua ação possa valer como lei universal pois eles determinam a vontade simplesmente como vontade, prescindindo da obtenção de determinado efeito desejado.

A partir disso, é possível compreender uma crítica relevante ao utilitarismo de Jeremy Bentham e Stuart Mill. Para Bentham (1979) todas as decisões sociais e políticas devem ser feitas com o objetivo de alcançar a máxima felicidade possível para o máximo de pessoas possível. Para Mill (2007), a principal máxima utilitarista é agir sempre de forma a produzir a maior quantidade de bem-estar, ou seja, determina que a ética deve basear-se sempre em contextos práticos e sua ação deve ter por finalidade proporcionar a maior quantidade de prazer (bem-estar) ao maior número de pessoas possível para que seja moralmente correta. Ou seja, a doutrina do utilitarismo irá descartar o imperativo categórico, pois retirará toda a correção moral de uma razão universal e irá oferecer ao sujeito. Ou seja, enquanto Kant preocupa-se com a maximização do bem, ou do resultado positivo de suas ações, apenas para si mesmo, sem importar-se com as demais pessoas o utilitarismo vem para maximizar o bem para os envolvidos. 

O imperativo categórico Kantiano fundamenta-se em enunciados que se complementam e orientam o modo como analisar a conduta moralmente correta: (1) “Age como se a máxima de tua ação devesse tornar-se, através da tua vontade, uma lei universal” – lei universal; (2) “Age de tal forma que uses a humanidade tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e ao mesmo tempo, como fim e nunca como meio” – fim em si mesmo; e (3) “Age de tal maneira que a tua vontade possa encarar a si mesma, ao mesmo tempo como um legislador universal através de máximas” – legislador universal (ou da autonomia).

Partindo destes enunciados, entende-se o imperativo categórico como dever moral que atinge a todos e não deve ser desobedecido. Tal preceito possui o fim em si mesmo e não pode ter justificação ou finalidade, sendo uma decisão moral racional que não deve ser vinculada a qualquer tipo de inclinação. De qualquer forma, ressalto a importância da responsabilidade social em tempos atuais. Afinal, quem auxilia os amigos está agindo conforme a moral, porém quem auxilia, exclusivamente, seus próprios amigos está ferindo a moral, pois está agindo indiferente às dificuldades dos demais.

Além disso, é possível relacionar o imperativo categórico proposto por Kant a ideia de constituir uma sociedade plural baseada em uma ética de liberdade. Observa-se que por meio do imperativo categórico a ação do homem passa a ter uma direção a qual tal princípio se torna uma ética da liberdade responsável pelo mérito de exigir dos seres humanos um respeito mútuo para uma (co)existência na sociedade. 

A Crítica da Faculdade do Juízo, terceira crítica publicada, surge em 1790 com o objetivo de apresentar e discutir o conceito de juízo estético. Nessa obra, Kant busca os limites daquilo que podemos conhecer pela nossa faculdade de julgar, que leva em consideração não apenas a razão, mas também a memória e os sentimentos. Kant apresenta a estética, julgamentos acerca do belo e do sublime, o sentimento e a imaginação. Essa obra foi crucial ao reconhecer a importância da estética. 

Para Kant o alvo da estética é a perfeição (ou aperfeiçoamento) do conhecimento sensível como tal e o belo é aquilo que, sem conceitos, é representado como um objeto de satisfação universal. Ao definir juízo como a faculdade de assumir o particular no universal, Kant dividiu o juízo em determinante e reflexivo. Enquanto o juízo reflexivo é o ato de submeter um objeto (individual) dado a uma consideração sob um princípio universal, o qual não tomamos do objeto, mas de nós mesmo, ou seja, criamos uma definição para o objeto. O juízo determinante é concebido a partir do particular e do universal o qual o objeto é determinado pelo intelecto. 

A partir das observações de Kant é possível deduzir que a crítica da faculdade do juízo liga natureza e liberdade. Compreende-se que a finalidade é objeto da faculdade de julgar. A faculdade de julgar liga a universalidade da regra com o caso particular. Segundo os princípios da razão, há motivos suficientes para considerar o homem como finalidade última da natureza sobre a terra e todas as outras coisas naturais como um sistema finalizado para o homem.

Com base no exposto, retomando o objetivo desse paper, é possível compreender - a partir de um olhar com as lentes da pesquisa contemporânea - a importância de nos certificamos dos reais limites de nossa capacidade de conhecimento; a ideia de que os objetos de conhecimento correspondem às versões transformadas das coisas no mundo, a partir do aparato cognitivo dos próprios sujeitos; a ideia de que existem certas teses ou entidades são apenas criações de nossa razão. Enfim, compreender que todas estas ideias derivam do criticismo Kantiano o qual surge em um contexto em que não se aceita como evidente nada que não possa ser racionalmente estabelecido, analisando criticamente. 

Além disso, a ideia interpretativista parte da concepção Kantiana de que existe um conhecimento a priori, que determina a capacidade de compreender algo. Desta forma, a perspectiva de um observador isento, como divulgado pelo pensamento positivista, torna-se, senão impossível, bastante condicionado por uma estratégia reducionista de análise. O conhecimento é (co)construído na relação com o mundo, ou seja, é um processo de interobjetivação e que leva em consideração uma pluralidade de visões, interesses, desejos e aspirações (ALPERSTEDT; ANDION, 2017). Em resumo, a gente apreende a realidade no sentido de objetivá-la.

Observa-se, que o pensamento Kantiano dialoga com o pensamento de Demo (1985), o qual entende-se que a ciência se relaciona com o sujeito e que trabalha com uma realidade construída. Porém cabe refletirmos se é a mente humana que produz e constrói o mundo, bloqueando toda a essência dos objetos do mundo, como afirma Kant. Afinal, imaginar que algo só existe a partir da mente humana, poderia ser considerado um pensamento um tanto quanto reducionista. 

Outrossim, o conhecimento a priori relaciona-se também com a pesquisa contemporânea no que tange a concepção de materialismo dialético proposta por Karl Marx. Quando a autora Saccol (2009) ao tratar do interpretativismo apresenta o princípio do círculo Hermenêutico, o qual “sugere que os seres humanos compreendem um todo complexo a partir de preconcepções a respeito de cada uma de suas partes e seus inter-relacionamentos”, que o raciocínio dialógico “reconhece que as nossas preconcepções e preconceitos são um ponto de partida necessário para a compreensão dos fenômenos” e que as abstrações e generalizações “ocorrem pela plausibilidade, coerência, consistência, clareza e conclusões” é possível traçar um paralelo com o conceito de concreto sensível presente na concepção do materialismo dialético. Ao considerar que a história quando analisada como algo em movimento torna-se transitória, que por sua vez, pode ser transformada pelas ações humanas temos a concepção do concreto sensível. Concreto sensível é o que dispomos de mais concreto, frente a realidade a ser investigada e a partir do singular que iniciaremos nossa análise até chegar ao abstrato, ao geral. Ou seja, a compreensão do interpreativismo a luz do conhecimento a priori de Kant familiariza-se com a concepção do materialismo dialético marxista (CHEPTULIN, 1982).

A partir da dialética Kantiana é possível compreender também a importância de analisarmos a capacidade que cada sujeito tem de elaborar teorias, mas também a capacidade de aproximar o pensamento, as ideias e a reflexão crítica sobre o empírico. Ao distinguir o conhecimento teórico do conhecimento prático compreende-se que a parte pura de ambos, ou seja, a razão que determina seu objeto inteiramente a priori tem de ser apresentada sozinha, de antemão, e não deve misturar-se àquilo que vem de outras fontes. Ou seja, o conhecimento vem de dentro do indivíduo e não de forma como se pensava até então. De qualquer forma, o ponto de inflexão para a pesquisa contemporânea é de que devemos considerar o conhecimento complexo visto que a ciência não se limita mais ao idealizado e situações simplificadas, por isso, os métodos de investigação utilizados pelos pesquisadores devem respeitar essa complexidade do fenômeno (TSOUKAS, 2005).

O pensamento Kantiano é idealista por se voltar para uma noção de bem puro e com foco no potencial do homem de transcender a sua própria humanidade. Para o campo dos estudos organizacionais as contribuições de Kant trazem para o debate a função da ciência de ser a força-motriz do autoaperfeiçoamento humano por meio do conhecimento (COUTO; SARAIVA; CARRIERI, 2021). Em síntese, a Revolução Copernicana de Kant permite que os pesquisadores façam um exercício de autocrítica em relação ao seu papel na sociedade; chama a atenção para o dever do pesquisador em recorrer à razão no desempenho de seu papel científico; apresenta a multiplicidade de visões teóricas as quais podem ser aplicadas a partir das lentes da abordagem crítica. E todo esse pensamento trouxe contribuições em prol da reflexão crítica quanto a separação sujeito-objeto e os movimentos intersubjetivos-aproximatórios.

REFERÊNCIAS


ALPERSTEDT, G.D.; ANDION, C. Por uma pesquisa que faça sentido. Perspectivas. São Paulo, RAE/FGV-EAESP, V.57, n.6, nov-dez 2017, p. 626-631. 
BACON, F. Novum Organum In: Francis Bacon. Coleção os Pensadores. São Paulo, Abril Cultural, 1979. p. 1-21. 
BENTHAM, J. Uma Introdução aos Princípios da Moral e da Legislação. In: Jeremy Bentham. Coleção os Pensadores. São Paulo, Abril Cultural, 1979. p. 3-18.
CHEPTULIN, Alexandre. A dialética materialista: categorias e leis da dialética. São Paulo: Alfa-Omega, 1982. 
COUTO, Felipe Fróes, SARAIVA, Luiz Alex Silva e CARRIERI, Alexandre de Pádua.  De Kant a Popper: Razão e Racionalismo Crítico nos Estudos Organizacionais. Organizações & Sociedade [online]. 2021, v. 28, n. 96 [Acessado 30 Agosto 2021] pp. 55-72. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1984-92302021v28n9603EN https://doi.org/10.1590/1984-92302021v28n9603PT>
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JAPIASSU, H. Alguns instrumentos conceituais. O que é a epistemologia? In: Introdução ao pensamento epistemológico. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1991, p. 15-39.
KANT, I. Crítica da razão pura. 4.ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2015. p.17-68.
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REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia. São Paulo: Paulus, 2005. v. 4. Quinta Parte. Capítulo décimo sétimo: “Kant e a fundamentação da filosofia transcendental”, pp. 347-426.
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SACCOL, Amarolinda Zanela. Um retorno ao básico: Compreendendo os paradigmas de pesquisa e sua aplicação na pesquisa em administração. Revista de Administração da Universidade Federal de Santa Maria. 2009;2(2):250-269. Disponível em: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=273420378007.
TSOUKAS, H. Introduction In: TSOUKAS, H. Complex Knowledge: Studies in Organizational Epistemology. Oxford. Oxford University Press, 2005. p 1-9