O positivismo e o retorno do foco no objeto: experimentar é preciso

Pequeno ensaio produzido pelo aluno de doutorado Hudson do Vale de Oliveira.

No positivismo, a experimentação figura como aspecto essencial para a construção do conhecimento. Assim, este short paper tem por objetivo argumentar sobre o foco dado ao objeto no positivismo, por meio de um diálogo entre Padovani, Castagnola e Bacon – além de outros estudiosos –, uma vez que este é considerado o pai do experimentalismo e aqueles tratam sobre o positivismo de Auguste Comte.
Fonte: Hulton Archive (2018).
A ciência ao longo da história busca compreender a natureza e entender a relação sujeito-objeto, sendo essa relação permeada por um contexto que contribui, significativamente, para a produção do conhecimento, do fazer ciência. Japiassu (1991) retrata que em um extremo teríamos o sujeito, que representaria a lógica do pensar, e de outro o objeto, que seria a realidade pensada. No meio desses extremos estaria, portanto, o contexto.

Além da importância dessa relação para o fazer ciência, considerando que a realidade que nos é posta é dinâmica, encontra-se em processo de transformação e apresenta enorme variabilidade de contextos, Demo (1985) destaca que “o maior problema da ciência é a realidade”. Entendendo essa realidade como natureza, Pierucci (2003) destaca que ela pode ser “manejada”.

Para a compreensão da natureza, da realidade, Descartes (1979) tinha como principal elemento a dúvida. Para ele, não se pode simplesmente aceitar o que era dado como verdade sem esta ser colocada em dúvida. É como uma criança, cientista nata, que durante o seu desenvolvimento, o seu reconhecimento da realidade, insiste nos porquês, por que a resposta dada ao por que inicial não é suficiente para a sua compreensão da realidade que lhe é imposta.

Segundo Bacon (1979), a ciência deveria promover uma separação entre o saber meramente especulativo e o saber científico, com foco no prático, no útil. De acordo com Padovani e Castagnola (1990), essa percepção também existe no positivismo, que admite a experiência como a fonte única de conhecimento e, também, como critério de verdade. 

O foco de Bacon (1979), no empirismo, era no objeto, destacando que a natureza está acima dos sentidos, ou seja, o homem não tinha conhecimento e nem pode mais do que a natureza. Para ele, focado no empirismo, o conhecimento, a descoberta científica, só era possível graças à experimentação e a verificação.

Assim como no empirismo, diferentemente do racionalismo de Descartes (1979), no qual o foco era no sujeito, no positivismo o foco também está no objeto, considerando a necessidade de experimentação para obtenção do conhecimento. Assim, conforme destacam Padovani e Castagnola (1990), “a filosofia é reduzida à metodologia e à sistematização das ciências”. No positivismo, portanto, tem-se como foco a visão mais da coisa, do objeto.

Em outras palavras, é como se considerássemos o fato de que enquanto para Descartes, no racionalismo, o foco era no pensar, no duvidar, tanto no empirismo (BACON, 1979) quanto no positivismo (PADOVANI; CASTAGNOLA, 1990) o foco seria no pegar, no experimentar, ou seja, representa a criança que insiste nos porquês, em busca da compreensão da realidade na qual estar inserida.

Referências:

BACON, F. Novum organum. In: BACON, F. Coleção os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 1-21.
DEMO, P. Demarcação científica. In: DEMO, P. Metodologia científica em ciências sociais. São Paulo: Atlas, 1985.
DESCARTES, R. Discurso do método. In: DESCARTES, R. Coleção os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
HULTON ARCHIVE. [Imagem de Auguste Comte.] In: FERRARI, Márcio. Auguste Comte: o homem que quis dar ordem ao mundo. 01/10/2018. Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/186/auguste-comte-pensador-frances-pai-positivismo>. Acesso em: 30/09/2019.
JAPIASSU, H. Alguns instrumentos conceituais. O que é epistemologia? In: JAPIASSU, H.  Introdução ao pensamento epistemológico. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1991. p. 15-39.
PADOVANI, U.; CASTAGNOLA, L. O criticismo kantiano e o positivismo. In: PADOVANI, U.; CASTAGNOLA, L. História da filosofia. São Paulo: Melhoramentos, 1990. 
PIERUCCI, A. F. O desencantamento do mundo: todos os passos de um conceito em Max Weber. São Paulo: Editora 34, 2003. 

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