Neo-Positivismo, Neo-Racionalismo E Estruturo-Funcionalismo - Parte 1

Pequeno ensaio produzido pela aluna de Mestrado Acadêmico Cíntia Moura Mendonça

     O Neopositivismo surge no ano de 1929 a partir de um pequeno grupo de homens burgueses e cultos que compunham o círculo de Viena para a construção de uma concepção científica do mundo em oposição ao espírito especulativo e metafísico com o propósito de fundamentar a ciência em um discurso lógico por meio da prova experimental.  Assim, defendiam que o conhecimento científico só poderia ser aceito de duas formas: pelo conhecimento matemático válido por si, sem a necessidade da experiência e as proposições empíricas que só após submetidas as critérios de verificação poderiam ser consideradas verdadeiras deixando a filosofia a única incumbência de validar as proposições de linguagem. O referido Círculo se dissolveu rapidamente com a perseguição nazista contra os cientistas judeus, contudo, esses pensadores exerceram forte influência na evolução da filosofia anglo-saxônica das ciências. (DORTIER, 2000).
Círculo de Viena
Popper (1979), corrobora com o neopositisvismo aprofundando o pensamento neo-racionalista ao propor uma teoria do conhecimento a partir da análise do uso método dedutivo para validação do conhecimento científico em oposição as ciência empírica positivista que utiliza de métodos indutivos, portanto com base na lógica indutiva. O autor rejeita a validação de experimentos particulares, para enunciados universais, ou seja, do ponto de vista lógico, não é aceitável, inferir enunciados universais a partir dos singulares. 
    Os defensores do método indutivo, tais como Bacon (1979), afirmam que podem confirmar a validade das teorias científicas por meio do experimento. Já Popper (1979), afirma que a indução não pode ser uma tautologia ou enunciado analítico, ao contrário, pode ser considerado um enunciado sintético, ou seja, sua negação não é contraditória, mas apenas possível logicamente. Nesse sentido a lógica indutiva sustenta uma ideia de probabilidade, e segundo o autor, ao considerar o princípio de indução não como verdadeiro, mas como provável, significa uma regressão a doutrina do apriorismo que Kant defende. Nesse sentido, a teoria defendida pelo autor se opõe a lógica indutiva podendo chamar de teoria do método dedutivo de teste, pois só se pode testar uma hipótese empiricamente após ter sido formulada. (POPPER, 1979)
      Trata-se da eliminação do psicologismo, ou psicologia do conhecimento, em contraste a lógica do conhecimento, afinal, segundo Popper (1979), não é possível analisar logicamente como se concebe uma teoria, portanto é irrelevante para a análise lógica do conhecimento, que ao contrário, entende que uma teoria se concebe e se submete ao exame lógico. Assim, não cabe a tarefa epistemológica de reconstrução racional pois o próprio cientista já o fez, rejeitou e analisou suas próprias ideias, basta considerar como um “elemento irracional” ou “intuição criadora”. O método dedutivo consiste na comparação lógica, investigação da forma lógica da teoria, compara-se com outras teorias e finalmente aplica-se o teste da teoria por meio das aplicações empíricas das conclusões que de podem deduzir dela, ou seja, até que ponto as consequências da teoria satisfazem os requisitos da prática. O procedimento do teste é dedutivo pois a partir da teoria, deduzem-se certos enunciados singulares as “predições”, assim, os resultados das aplicações de experimentos práticos apontam, se positivo, as conclusões singulares são aceitáveis, mas se negativa, ou falseadas, seu falseamento falseia a teoria da qual elas foram logicamente deduzidas.
      Popper (1979), trata do problema da demarcação, como uma das problemáticas que diferenciam os positivistas antigos dos neopositivistas. Afirma que os antigos positivistas admitiam como científicos, conceitos que se derivavam da experiência, conceitos logicamente redutíveis aos elementos de experiência dos sentidos, demarcação de uma maneira naturalista, e não de uma convecção apropriada ciência empírica de um lado e metafisica de outro, afirma que com isso, aceitam um número infinito de mundos logicamente possíveis, por meio de uma ciência experimental indutiva que se propunha a conhecer o mundo real, sintético e demarcado.   O autor afirma que para os positivistas modernos, ou neopositivistas, a ciência não é um sistema de conceitos, mas sim, um sistema de enunciados, em que consideram os enunciados que são redutíveis aos enunciados elementares da experiência. Assim, para distinguir o sistema que representa nosso mundo da experiência, deve-se utilizar o método dedutivo, e portanto não com base na verificabilidade, mas sim, na falseabilidade. O autor trata sobre o problema da objetividade afirmando que as teorias cientificas nunca são inteiramente justificáveis, mas sim que “a objetividade dos enunciados científicos reside no fato de que eles podes ser testados intersubjetivamente” (POPPER, 1979, p. 18). Por fim, o Popper (1979) afirma que, ao contrário de Kant, que aceita o método indutivo considerando a subjetividade que está atrelada aos sentimentos e convicções, o autor defende a necessidade da objetividade a partir da regularidade e reprodutividade, com isso defende a necessidade de se aplicar  regras metodológicas como convenções, ou regra do jogo das ciência empírica, diferente das regras de lógica pura, o que pode levar a tornar uma teoria testada logcamente a não ser completamente rejeitada pela experimentação de um fragmento.
      Já Parsons (1967), demarca a lógica estruturo-funcionalismo ao tratar da teoria e funcionamento das organizações que, por definição, tem como fundamental característica ter como prioridade a execução de uma meta específica, diferenciando-a dos demais tipos de organizações além de demarcar as relações externas e internas. Autor importante na construção da teoria das organizações que balizou a ciência da administração enquanto ciência instrumentalista. Discorre sobre as organizações com fins econômicos, como subsistemas que, ao buscar alcançar suas metas produtivas, e portanto de maximização de resultados, servem ao sistema maior no qual fazem parte, numa cadeia de interdependência e manutenção da ordem e do Sistema Social estabelecido que regula as relações econômicas e sociais. O Racionalismo econômico e os valores do sistema superior, devem regular todas as ordens de relações, e deve-se fazer de tudo para mantê-los, inclusive, sobre os valores individuais. A sua utilidade não está restrita a obtenção de lucros por si só, mas “legitimam os principais padrões funcionais do funcionamento necessário à implementação dos valores, neste caso a meta do sistema, em condições típicas de situação concreta.” (PARSONS, 1967, p. 47)
     Com base nos três principais autores mencionados, que retratam as epistemologias do neo-positivismo com Dortier (2000), neo-racionalismo com Popper (1979) e estruturo-funcionalismo com Parsons (1967), é possível perceber o quanto essas três bases se complementam para propagar e aplicar a lógica racionalista e o sistema capitalista de uma forma mais demarcada e funcional. Com o surgimento do neo-positivismo se constrói com um discurso amplamente aceito na cultura anglo-saxônica por meio do firmamento de um contrato aceito e difundido na cultura acadêmica e social ao combater a metafísica por meio da validação de conhecimentos que, com excessão da lógica matemática, a partir do experimento cientificamente conduzido. Com o pensamento neo-racionalista se aprofunda a validação do verdadeiro conhecimento a partir da racionalidade, que pode ser testado ou não, a partir de uma lógica de falseabilidade mas que não invalida a teoria concebida da “irracionalidade” que foi analisada a partir de outras teorias, ou seja, não interessa o que motiva as ideias que originam as teorias, pois o próprio pensador já colocou em prova seus próprios pensamentos. No meu ponto de vista, racionalidade que busca purificar a ciência e camuflando a ideologia que dá sentido e motiva as ações do sujeito e que culmina de forma muito declarada na visão estruturo-funcionalista que vem propor um tratado sociológico da teoria das organizações que explicita como uma organização que é um subsistema deve se “comportar” externa e internamente para contribuir com a manutenção da ordem e do sistema capitalista preponderante superior, intocável e incontestável.

Referências
BACON, F. Novum Organum In: Francis Bacon. Coleção os Pensadores. São Paulo, Abril Cultural, 1979. p. 1-21. 
DORTIER, J-F. Le cercle de Vienne et le nouvel sprit scientifique. In: Sciences Humaines, hors-série, septembre, 2000 (tradução livre) (2p). 
PARSONS, T. Sugestões para um tratatado sociológico da teoria das organizações. In: ETZIONI, A. (org) Organizações Complexas. São Paulo, Atlas, 1967. 
POPPER, K. A lógica da investigação científica. In: Karl Popper. Coleção os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

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