Kant e o sujeito relacionado ao objeto em comparativo aos arquétipos de Jung

Pequeno ensaio produzido pelo aluno de Doutorado Leandro Leite

Cita Kant (2015) na obra “Crítica da razão pura” que por mais que nosso conhecimento comece com a experiência, nem por isso surge ele apenas da experiência. Se existe tal conhecimento independente da experiência, e mesmo de todas as impressões dos sentidos – tais conhecimentos são denominados a priori e se diferenciam dos empíricos, que têm suas fontes a posteriori, na experiência. Citam Padovai&Castagnola (1990) que do empirismo e do racionalismo origina-se o criticismo cujo fundador é Kant, considerado o centro da filosofia moderna. Se para Padovani &Castagnola (1990) é de Kant a chamada revolução copernicana, a respeito disso, explica Kant (2015) sobre os pensamentos de Copérnico que, verificando o pouco avanço na explicação dos movimentos celestes, supondo que a multidão de estrelas giraria em torno do expectador verificou, se não daria mais certo fazer girar o expectador deixando as estrelas em repouso. Assim, Kant (2015) sugere que na metafísica seja tentado algo semelhante: se a intuição tivesse que ser regulada pela constituição dos objetos não haveria como saber algo sobre ela a priori, porém, o objeto regula-se pela constituição da nossa faculdade intuitiva,o que permite representar tal possibilidade. Dessa forma, indo ao encontro das ideias de Kant (2015) o argumento deste ensaio é o de que Kant, não apenas coloca o sujeito no centro em relação ao objeto, mas também, nos indica que o próprio sujeito possui outros elementos mais centrais a ele próprio, por exemplo, os arquétipos provenientes do inconsciente que, de acordo com Jung (2004)se trata de um a priori gigantesco.


Quando Kant (2015) explica o termo a priori puro, se refere aquilo que não necessita de nenhuma experiência sendo livre de empirismos. Por sua vez, Jung (2004) elucubra que o inconsciente não é apenas um a priori gigantesco, mas a fonte dos instintos, na medida em que os arquétipos não são mais as formas em que se manifestam os instintos; contudo, a fonte da vida que é o instinto da vida emana também do todo criativo. Dessa forma, podemos pensar que aquilo que possuímos, que não necessita de nenhuma experiência sendo, portanto, livre de empirismos, pode ser compreendido como o inconsciente, o qual, é a fonte dos instintos que podem ser expressos por meio dos arquétipos que são o instinto da vida. Os arquétipos, tratam-se de dados cognoscitivos que temos armazenados em nosso intelecto, os quais, de acordo com Jung (2004) representam a expressão de toda a existência humana sendo sistemas vivos de reação e de disposição que por meios invisíveis e, portanto, mais eficazes, determinando a vida individual e chegando a se manifestarem no inconsciente coletivo.


As ideias de Jung (2004) tornam-se importantes, pois, aponta Kant (2015) que as coisas tomam o seu lugar à medida em que a crítica nos instrui sobre a nossa inevitável ignorância quanto às coisas em si mesmas, desde que não limitemos tudo aquilo que podemos conhecer de um modo teórico aos próprios fenômenos; assim, a razão especulativa tem de sofrer quanto à posse que imaginava ter, permanecendo os interesses humanos universais e os ganhos que o mundo até aqui extraiu dos ensinamentos; desde que, questionemos as impotentes distinções entre a necessidade prática subjetiva e a objetiva. A respeito de objetividade e subjetividade, explica Jung (2004) que os fatores anímicos complexos tratam-se de uma realidade autônoma, de caráter enigmático que escapa aos caprichos e manipulações devido aos conteúdos da psique subjetiva (consciência), mas não à da psique objetiva (inconsciência), a qual, representa uma condição a priori da consciência e de seus conteúdos. Jung (2004) explica que é do inconsciente que emanam influências determinantes, as quais, independente da tradição conferem semelhança a cada indivíduo singular, bem como, da forma de representa-los sendo uma das provas o paralelismo dos motivos mitológicos, que denominou de arquétipos, devido à sua natureza primordial.Explica Kant (2015) que a necessidade e a universalidade estrita são, assim, indícios seguros de um conhecimento a priori, e pertencem inseparavelmente uma à outra. Já para Jung (2004) é fato que as imagens arquetípicas têm um sentido a priori tão profundo que nunca questionamos o seu sentido real, pois, o homem apenas descobriu que até então jamais havia pensado acerca de suas imagens e quando começa a pensar sobre elas, recorre ao que chama razão. 

Como Kant (2015) sugere que: se a intuição tivesse que ser regulada pela constituição dos objetos não haveria como saber algo sobre ela a priori, porém, o objeto regular-se pela constituição da nossa faculdade intuitiva permite representar tal possibilidade; se nos sugere Freitas et.al.(2017) que a intuição pode ser definida como uma informação interior, natural, algo intangível para o qual não se é treinado, podendo ser definida desde como uma sensação e para outros uma habilidade, nos abre caminho para compreender a dificuldade da enquadramento da sua natureza como sendo consciente ou inconsciente. Com isso, podemos questionar a respeito de que as coisas podem ser pensadas primeiro para serem postas à prova depois. No entanto, como supracitado, Jung (2004) nos afirma que o inconsciente se trata de um a priori gigantesco.

Então, se para Padovai&Castagnola (1990) do empirismo e do racionalismo origina-se o criticismo cujo fundador é Kant, nos leva a crer que o próprio Kant pensou de forma independente das correntes filosóficas da sua época. Por sua vez, Jung (2004) explica que uma psicologia científica, independentemente dos prós e contras da filosofia da época, deve considerar as intuições transcendentais que emanaram do espírito humano em todos os tempos, como projeções, isto é, como conteúdos psíquicos extrapolados num espaço metafísico e hipostasiado. Com isso, compreendemos que as elucubrações intelectivas não passam necessariamente pelas experiências, porém, surgem de uma vontade interior que pode ser objetiva ou subjetiva de compreensão transcendental normalmente geradas pela universalidade dos conceitos, os quais, tratam-se de importantes meios para facilitar o entendimento intelectivo.Percebemos o avanço da ciência quando Kant (2015) sugere colocar o sujeito ao centro e o objeto em volta; enquanto Jung (2004) nos explica que há algo a mais, além do que se via como sujeito, o que descreveu como sendo o inconsciente.


Referências
FREITAS, H. M. R; ANDRIOTTI, F.K; MARTENS, C.D.P; PESCE, G. MARCOLIN, C.B. Visão executiva sobre a tomada de decisão instantânea. Revista Desenvolvimento em Questão. n.39, abr-jun, 2017.
JUNG, Carl Gustav. La dinámica de lo inconsciente. Espanha: Trotta, 2004.
KANT, I. Crítica da razão pura. 4.ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2015. p.17-68. 
PADOVANI, U. CASTAGNOLA, L. História da Filosofia. São Paulo: Melhoramentos, 1990. 

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