Pensamento moderno: da antiguidade clássica ao empirismo e racionalismo

Texto dissertativo produzido pelo aluno Fernando Zatt Schardosin.

Florianópolis, 24 de março de 2018


           O objetivo deste paper é apresentar uma crítica argumentativa sobre o tema, origem do pensamento moderno, da antiguidade clássica ao empirismo e racionalismo, tomando como principais referências Bacon (1979), Descartes (1979) e Koyré (2011), cuja estrutura metodológica consistiu na dialética da leitura dos textos selecionados, abstração e síntese dos principais fundamentos teóricos dos autores.
            Ao longo da história do desenvolvimento da ciência, muitas pessoas se debruçaram para entender os aspectos da natureza, assunto que não foi exaurido ainda, pela dialética a natureza está subordinada ao pensamento humano que por sua vez está subordinado as palavras (BACON, 1979), embora grandes avanços foram possíveis e se complementaram com a própria história da evolução científica, sendo a ciência entendida como tal, em razão do rigor metodológico que contempla, mas cada cientista compreende o método de sua própria forma.
Utilizando como exemplo Bacon (1979), que tinha o método como o estabelecimento dos graus de certeza, determinação do alcance exato dos sentidos e rejeição do labor da mente na maioria dos casos, enquanto que Descartes (1979) possuía um modelo positivista constituído primeiramente por não acolher algo como verdadeiro, que ele mesmo não conhecesse como tal diante das evidências, dividir as dificuldades no maior número de parcelas possíveis, condução do pensamento na ordem dos mais simples e fáceis primeiramente e ainda fazer enumerações e revisões gerais para que nada se omitisse. Métodos tão distintos entre personalidades tão importantes para a ciência, não poderia afirmar que um está mais correto que o outro, mas que são formas de tratar temas distintos ou mesmo podendo ser tratados nos mesmos temas.
Neste viés, a disputa entre o normativismo e positivismo é infrutífera para a ciência, pois podem explicar o mesmo ou distintos fenômenos, mas como complementares ou apropriadas a cada investigação, tomando o devido cuidado em relação as certezas aparentes, como Bacon (1979) afirma, passamos a admirar e exaltar de modo falso os poderes da mente e sem a busca de adequados auxílios, sendo enganados pelas afirmações que fazemos em relação aquilo que investigamos, denota que a verdade pode estar muito mais profunda do que nossa visão consegue visualizar, o autor trata que a lógica é mais danosa do que útil, pois consolida e perpetua erros em vez de indagar a verdade, tais erros, uma vez cometidos, podem passar de cientista a cientista até que se torne verdade absoluta, maculando a sua história.
Bacon (1979) vai além ao dizer que aquilo que foi desvendado, o foi em razão maior do acaso do que da ciência, marcando um ponto de inflexão sobre o desenvolvimento técnico da humanidade, que a invenção tem sido mais importante a meditação, a escrita e a experiência, à teoria, que corrobora com a afirmação de Koyré (2011) de que não há nada de desenvolvimento científico em uma série de invenções que transformaram a vida da humanidade, tais como o arado, arreio, biela, manivela, leme a ré, compreensível portanto as razões que levam a estas afirmações, entretanto temerário pois afirmar que desenvolvimento técnico nada tem de científico e que toda e qualquer evolução que não tenha ocorrido por meio de método científico foi ao acaso. Há de concordar, porém, que o método científico conduz a reflexão a respeito dos meios adotados para determinada finalidade, mas tal reflexão não garantem o êxito do engajamento, como os autores deixam claro, por outro lado, o desenvolvimento técnico também utiliza de raciocínio aplicado a resolução de problemas reais, embora possa não ser sistematizado ou ainda que possua uma teoria para explicar cada processo, sendo o estudo empírico destes procedimentos que promoverão o avanço teórico.
Para aprimorar esta discussão, pode-se utilizar da própria afirmação de Bacon (1979) que afirma que para “revelar o que não foi revelado” é necessário “tentar o que não foi tentado”, entendendo a complexidade das coisas e acompanhamento entre o que é descrito e o que é recorrido, buscando eliminar os “hábitos pervertidos arraigados na mente”, obviamente este estava se referindo ao estudo metodológico, mas pode-se reduzir para afirmar que nem todo o progresso é científico, mas a ciência precisa estudar todo o progresso, assim como eventuais regressos. Para desvendar a ciência dos fenômenos empíricos, pode-se utilizar de Bacon (1979) ao afirmar que é necessário estabelecer e fazer surgir os axiomas da experiência e em seguida deduzir e derivar novos experimentos dos axiomas.
Neste sentido Bacon (1979) recomenda ao cientista a não partir do sentidos e das coisas aos axiomas e as conclusões, pois a reflexão é um procedimento importante para análise dos fenômenos, principalmente nas ciências sociais, que noções são mal abstraídas das impressões dos sentidos e que o pesquisador pode revelar a falha ao demonstrar as próprias impressões, pois os sentidos são viciosos e induzem ao erro, como exemplo, o pesquisador não procura inventar, imaginar o que a natureza faz ou produz, mas deve descobrir, porém não é possível se desabastecer das ideologias e conhecimentos que fizeram o pesquisador ao de seu desenvolvimento como tal.
Descartes (1979) vem afirmar que o trabalho realizado coletivamente é imperfeito por natureza, ou seja, mesmo grandes obras, precisam ser realizadas por uma única pessoa para que não contenha erros que prejudiquem a sua estética, tal afirmação é inata equivocada, pois até mesmo nos exemplos comete grosseiro erro, embora um prédio possa ser desenhado por apenas um arquiteto, os operários que o constroem apõe suas digitais na obra, incoerente portanto dizer que foi realizado por apenas uma pessoa, pois qualquer uma delas poderá cometer erros na execução, edificações reformadas, já o são porque estavam imperfeitas, ou por projeto, ou por ação do tempo e de uso, necessitando de qualquer aprimoramento para ficar melhor do que esteve, na ciência também é errado este raciocínio, caso contrário o nome de Descartes não estaria sendo citado nem mesmo neste ensaio.
Convém concordar com Descartes (1979) quando afirma que os trabalhos não se desfazem com a mesma facilidade de quando foram feitos novos, como exemplo, normalmente não se destroem as casas para se construírem outras, a menos que sejam obrigados a fazê-lo, na ciência o processo é análogo, novas teorias surgem rotineiramente, mas para que uma seja completamente abandonada de uso e razão, precisa-se construir uma argumentação forte que a torne imprópria para qualquer utilização.
Do mesmo modo há de concordar com o método cartesiano, não somente por seu populismo, mas por funcionar em inúmeras situações, não em todas, consistindo em nunca acolher algo como verdadeiro, em um primeiro momento, até que se tenha a certeza de sua veracidade, dividir cada uma das dificuldades em tantas parcelas quantas forem necessárias para entender a cada uma delas, quanto aos pensamentos, conduzi-los em ordem dos mais simples e fáceis até os mais complexos e difíceis e fazer enumerações completas e revisões para não omitir nada durante o processo. Constituindo-se de um modelo de raciocínio rigoroso para estudo e desenvolvimento da ciência.

REFERÊNCIAS

BACON, F. Novum Organum In: Francis Bacon. Coleção os Pensadores. São Paulo, Abril Cultural, 1979. p. 1-21.
DESCARTES, R. Discurso do Método. In René Descartes. Coleção os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
KOYRÉ, A. As origens da ciência moderna: uma nova interpretação. In: KOYRÉ, A. Estudos de história do pensamento científico. 3.ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2011. p.55-81.

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