A invenção do sujeito na arte de Georges de La Tour

Por Daniel Ouriques Caminha,

Petit souffleur à la lampe
Afinal o que é arte? Quando lanço esta pergunta a um grupo qualquer via de regra recebo respostas muito variadas, discretas e acanhadas. Se intuitivamente podemos facilmente afirmar que a Capela Sistina e a Monalisa são arte, temos certos bloqueios a racionalizar sobre os porquês disso e daquilo e não outras coisas serem arte. Tenho a intuição de que a cadeira na qual estou sentado redigindo este texto não é arte, mas as obras que estão no Louvre o são (incluindo a própria construção arquitetônica do museu). Certamente isso não é uma questão fácil mesmo. Eu e você não somos ignorantes por termos uma certa dificuldade em racionalizar a arte. É uma questão filosófica da qual o problema estético vem se debruçando há séculos. Neste blog, pretendo ir trazendo à tona diversas perspectivas estéticas da questão artística. Ato contínuo, lanço uma provocação inicial a partir da arte plástica de Georges de La Tour (França, 1593-1652). Seria a arte senão a postura intencional de imprimir em algo um sentimento singular/específico/empírico? Ora, não se trata, por exemplo, da representação de sentimento tais como a tristeza ou a felicidade em geral, em abstrato, mas da impressão intencional de alguém acerca de algum sentimento particular que está a sentir no processo artístico (mesmo não sabendo ainda bem qual sentimento é) e expressou-o através da via artística. Em La Tour, neste caso, o elemento artístico reside não no sentimento que achamos que as pessoas representadas estão sentindo, mas num sentimento específico de La Tour que foi representado  pelo próprio no processo artístico que resultou na composição específica (portanto, singular) das pinturas. 

Madeleine pénitente 
Christ dans l'atelier du charpentier

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