O utilitarismo e sua relação com o individualismo metodológico

Pequeno ensaio produzido pela acadêmica Jéssica Machado Costa Firmiano.

Este paper analisa a teoria do utilitarismo, com foco nas contribuições fundamentais de Jeremy Bentham e John Stuart Mill. Inicialmente, explora-se o utilitarismo de Bentham, que enfatiza o princípio da felicidade, e, em seguida examina as abordagens aprimoradas de Mill, que fazem distinções qualitativas entre diferentes tipos de prazer. O objetivo é compreender como a teoria utilitarista evoluiu e suas implicações éticas ao longo do tempo.

O utilitarismo é uma teoria ética que avalia a moralidade das ações com base em suas consequências, visando maximizar o bem-estar geral. Jeremy Bentham e John Stuart Mill são dois filósofos que desempenharam papéis essenciais na formulação e refinamento desta teoria, esse paper examina a contribuição dos filósofos.

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O utilitarismo de Jeremy Bentham um enfoque na maximização do prazer e na minimização da dor. O princípio da utilidade, busca construir a felicidade através da lei e da razão. Ele define que "o princípio da utilidade aprova ou desaprova qualquer ação com base em sua tendência de aumentar ou diminuir a felicidade do indivíduo envolvido" (Bentham, 1789, p. 2). Esse princípio aplica-se tanto a ações individuais quanto a medidas governamentais.

Bentham propôs o cálculo hedonista para avaliar a moralidade das ações, esse cálculo envolve a quantificação do prazer e da dor, considerando fatores como intensidade, duração, certeza, proximidade, fecundidade e pureza. Contudo, a dificuldade de quantificar prazeres e felicidade levanta questões sobre a aplicabilidade prática desse método. Como Bentham observou, "a medida do prazer é tão incerta quanto a própria natureza do prazer" (Bentham, 1789, p. 25).

De outra banda, John Stuart Mill aprimorou o utilitarismo ao introduzir a distinção entre prazeres superiores e inferiores. Mill argumenta que "é melhor ser um homem insatisfeito do que um porco satisfeito, melhor ser Sócrates insatisfeito do que um tolo satisfeito" (Mill, 2007, p. 22). Ele enfatiza que a qualidade dos prazeres deve ser considerada além da quantidade, defendendo que prazeres intelectuais e morais são superiores aos prazeres corporais.

Mill oferece uma visão mais complexa da moralidade ao levar em conta a qualidade das experiências. No entanto, a subjetividade envolvida na avaliação dos prazeres superiores levanta questões sobre a consistência e aplicabilidade de seus critérios. O filósofo reconheceu que a dificuldade está em determinar quais prazeres são superiores. Isso sugere desafios na aplicação prática dos princípios utilitaristas, dada a natureza subjetiva das avaliações.

Ambos os filósofos compartilham a premissa central do utilitarismo, que é maximizar o bem-estar geral e avaliar as ações com base em suas consequências. Enquanto Bentham adota uma abordagem quantitativa e hedonista, Mill introduz uma análise qualitativa dos prazeres. Bentham foca na soma total de prazer, enquanto Mill argumenta que alguns prazeres são mais valiosos do que outros. As ideias de Mill  expandiram a teoria, abordando a complexidade das experiências humanas e as variadas formas de satisfação.

As contribuições de Bentham e Mill foram cruciais para o desenvolvimento do utilitarismo, oferecendo perspectivas distintas sobre o princípio da felicidade, enquanto Bentham forneceu uma base clara com o cálculo hedonista, Mill avançou a teoria ao considerar a qualidade dos prazeres. Ambas as abordagens continuam relevantes por formar a base do utilitarismo.

Penso que o utilitarismo, tanto na versão de Bentham quanto de Mill, oferece uma lente interessante para analisar questões contemporâneas, especialmente em um mundo onde acabamos mais globalizado e interconectado. Um exemplo atual que pode ser discutido à luz dessas teorias é o uso das redes sociais.

Bentham, que prioriza a quantidade de prazer sobre a qualidade, pode ser exemplificado em relação as plataformas de mídia social sendo vistas como um exemplo de maximização da felicidade, já que milhões de pessoas se conectam, compartilham suas experiências e sentem prazer ao interagir virtualmente. Sob essa perspectiva as redes sociais podem gerar prazer imediato, entretenimento e oportunidades de comunicação globalizada.

Já no caso de Mill, penso em uma dimensão mais profunda e qualitativa, já que ele destaca que, embora as redes sociais possam gerar prazer superficial, os efeitos sobre a saúde mental, o isolamento social e a superficialidade das interações podem ser prejudiciais a longo prazo. Em termos de qualidade, Mill poderia sugerir que um prazer mais elevado viria de interações humanas significativas que enriquecem a vida das pessoas, á que as redes sociais, ao promover interações rápidas e muitas vezes vazias, podem contribuir para um bem-estar de menor qualidade.

Referências

Bentham, Jeremy. uma introdução aos princípios da moral e da legislação, 1789.

Mill, John Stuart. Utilitarismo, 2007.


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