Pequeno ensaio produzido pela acadêmica Patricia Terezinha Corrêa.
Goldman e Kidd (2020), caracterizam epistemologia como uma ciência ou um estudo do conhecimento, destacando que, para que uma epistemologia seja minimamente satisfatória, ela deve desempenhar um(ns) papel(éis) social(is). Isto é, os autores declaram que é possível que a epistemologia abrace perspectivas sociais sobre o conhecimento, sem que perca seus padrões epistêmicos tradicionais.
Com base no conceito de epistemologia, Kidd, Medina e Pohlhaus (2017) definem injustiça epistêmica como as formas de tratamento injusto associados as questões do conhecimento, compreensão e participação nas práticas comunicativas. Desta forma, os autores trazem diversos tópicos de tratamentos indevidos, sendo alguns deles: exclusão e silenciamento, mal-ouvidos ou mal representados, ter status ou posição diminuídos nas práticas comunicativas, diferenciais injustos de autoridade e/ou agência epistêmica, ser cooptado ou instrumentalizado etc. Ainda, os autores trazem quatro possíveis lentes usadas para identificar as injustiças epistêmicas: 1. Contrato Social e Ignorância Coordenada, com duas categorias: aquelas que estrutura relações imparciais entre os conhecedores (knowers – geralmente brancos), criando uma classe de sub-conhecedores (sub-knowers – geralmente não-brancos) e aquelas que desviam a atenção epistêmica em benefício da dominância (privilegiando os grupos dominantes); 2. Interdependência e Relações Epistêmicas; 3: Graus de Mudança e/ou Sistemas Epistêmicos e; 4. Trabalho Epistêmico e Produção do Conhecimento – relaciona-se com três categorias: 1. Injustiças agenciais epistêmicas; 2. Invalidação do trabalho epistêmico e; 3. Exploração do trabalho epistêmico de determinados conhecedores (exploram injustamente o trabalho epistêmico).
Fonte: https://www.linkedin.com/pulse/la-filosof%C3%ADa-en-recuperaci%C3%B3n-miguel-alemany-h7ogf/ |
No tocante da lente do Trabalho Epistêmico e Produção do Conhecimento, especificamente sobre a categoria de exploração epistêmica Kidd, Medina e Pohlhaus (2017, citando Allen 2017; Hall 2017) traz que o poder não apenas suprime, mas também produz. Neste sentido, o caso dos alunos e jovens pesquisadores da Dinamarca que acusaram orientadores e cientistas mais velhos de roubo de ideias ganha um grande destaque.
Um dos pesquisadores entrevistado por Marques (2022), afirma que viu seu orientador acrescentar uma lista de outros autores/pesquisadores que não tinham conexão alguma com sua pesquisa, inclusive pesquisadores estrangeiros, afirmou, ainda, que “Na minha opinião, foi um caso claro de intercâmbio de autoria, pois o nome do meu professor também foi visto em muitos trabalhos posteriores publicados por essa equipe do exterior”. Como este caso, Marques trouxe diversos outros casos parecidos: artigos escritos com base na dissertação de mestrado dos alunos, remoção do nome de alunos de seus projetos etc.
Estes casos de exploração de trabalho epistêmico são muito comuns, pois os pesquisadores/alunos estão em posições desfavorecidas (não dominantes) em relação aos seus orientadores, e, muitas vezes, como em outro caso relatado por Marques (2022), os pesquisadores são excluidos e sofrem ameaças de retaliação, quando exigem reconhecimento.
Neste sentido, Kidd, Medina e Pohlhaus (2017, citando Henning, 2015), relatam que uma forma de resistência a essa exploração epistêmica, seria os conhecedores (knowers) não dominantes se retirem das interações epistêmicas as quais eles avaliam justificadamente como exploratórias.
Referências
GOLDMAN, A. The What, Why, and How of Social Epistemology. In: Fricker, M; Graham, P.J; Henderson, D. & Pedersen, N.J.L.L. The Routledge Handbook of Social Epistemology. New York, Routledge Taylor & Francis, 2020, p. 10-21.
KIDD, I.J; MEDINA, J.; POHLHAUS, Jr., G. (Edd) The Routledge Handbook of Epistemic Injustice, 2017. Introduction e Capítulo 1 – Varieties of Epistemic Injustice. In: https://www.routledge.com/The-Routledge-Handbook-of-Epistemic-Injustice/Kidd Medina-PohlhausJr/p/book/9780367370633
REVISTA PESQUISA FAPESP. Alunos e jovens pesquisadores da Dinamarca acusam orientadores e cientistas mais velhos de roubo de ideias. Revista Pesquisa FAPESP, 25 jul. 2024. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/alunos-e-jovens pesquisadores-da-dinamarca-acusam-orientadores-e-cientistas-mais-velhos-de roubo-de-ideias/. Acesso em: 3 set. 2024.
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