Epistemo o quê?

 Pequeno ensaio produzido pela acadêmica Luciana Pereira da Rocha Safe.

Epistemologia. Pode ser conceituada pelo dicionário com a brevidade de algumas linhas. A saber: substantivo feminino. Conjunto de conhecimentos sobre a origem, a natureza, as etapas e os limites do conhecimento humano; teoria do conhecimento. Estudo crítico das premissas, das conclusões e dos métodos dos diferentes ramos do conhecimento científico, das teorias e das práticas; teoria da ciência.(Michaelis, 2024).

Contudo, o conceito linguístico não abarca toda a complexidade do conceito teórico. Greco (1999) apresenta a epistemologia em 526 páginas e 17 capítulos cujos teóricos argumentam cada campo conceitual. Partindo da premissa da definição do que é epistemologia Greco (1999) enfatiza que coexistem várias objeções que caricaturam a epistemologia como (a) a busca pela certeza, (b) a tentativa de encontrar fundamentos absolutos, (c) a tentativa de legitimar outras disciplinas, como a ciência, e (d) a projeto de refutação do ceticismo. Da mesma forma, Tsoukas e Chia (2011) contextualizam a epistemologia em 13 capítulos com diferentes óticas e percepções autorais.

No âmago conceitual parece mais fácil afirmar o que não é epistemologia, do que seria a epistemologia verificando todas as suas possibilidades. Ademais, no ceticismo como corrente epistemológica, Greco (1999) já infere que negar o saber ao se questionar o conhecimento de forma repetitiva é por si só incongruente por estudar um conhecimento na teoria sequer existiria. Greco (1999) apresenta entre os problemas tradicionais o ceticismo cuja questão central da teoria do conhecimento poderia ser: "O que podemos saber?" Ao responder de forma pessimista o cético nega que a existência de conhecimento. Inclui uma negação do conhecimento científico, mas significa incluir uma negação do conhecimento comum. Se no ceticismo dificilmente será possível chegar na ciência colocada a prova, adiciona-se que poderemos saber algo aplicando a dúvida em todas as instâncias? Se o cético conclui que não há como justificar as crenças em questão e que, portanto, não temos o tipo relevante de conhecimento, então, nunca seremos conhecedores de nada?

Fonte: https://filosofianaescola.com/conhecimento/epistemologia/
Fonte: https://filosofianaescola.com/conhecimento/epistemologia/

Por sua vez, Japiassú (1991) categoriza o saber, a ciência e a epistemologia. Sendo o primeiro, conjunto de conhecimentos metodicamente adquiridos, sistematicamente organizados e suscetíveis de serem transmitidos por processo pedagógico de ensino. O segundo, conjunto das aquisições intelectuais com a matematização de dados empíricos. E o terceiro como estudo metódico e reflexivo do saber, de sua organização, de sua formação, de seu desenvolvimento, de seu funcionamento, de seus produtos intelectuais. E ainda o autor divide em tipos de epistemologia: global, particular e específica. Ressalta-se que desde o início da obra o autor nomeia “introdução ao pensamento epistemológico” corroborando que não se encerra a discussão e apenas se começa para outras que ampliam as ideias apresentadas. Por exemplo, ele apresenta a relação da filosofia das ciências, a história das ciências, a psicologia das ciências, e a sociologia do conhecimento. Certamente cada tópico poderia ser tema de um livro a parte

Portanto, estudar como o saber se consolida, ou como sabemos o que sabemos, deve ter sido algo pensado após a existência (ou a crença da existência) de um conhecimento prévio? Possivelmente não seria possível a epistemologia como estudo do saber, caso não fosse pressuposto que o saber exista como objeto de estudo.

Portanto, Demo (1985) quando enfatizava que o saber e a ciência tinham sua existência em um interesses de um grupo específico, ele estava certo. Contudo, o estudo do objeto dependendo da forma como se analisa poderia destruir o objeto de estudo conforme a analogia de Tsoukas (2005) quando na analogia do entomologista demonstra que no ímpeto de encontrar seu raro animal de estudo e colocar a lente para observar melhor termina por destruir o animal queimado com a luz da lente em conjunto com o sol. A questão seria então sanada pela epistemologia quando permite que diferentes lentes analisem o saber como objeto de estudo para não destruí-lo? Quiça faça sentido a questão de diferentes óticas para a própria epistemologia, uma vez que a ciência é justamente a proposta da construção e reconstrução das verdades.

Referências Bibliográficas 

DEMO, P. Demarcação científica. In: DEMO, P. Metodologia Científica em Ciências Sociais. São Paulo: Atlas, 1985.

 GRECO, J. Introduction: What is Epistemology? The Blackwell Guide to Epistemology. Massachussets/Oxford: Blackwell Publishers Ltda, 1999, p. 1-33. 

JAPIASSU, H. Alguns instrumentos conceituais. O que é a epistemologia? In: Introdução ao pensamento epistemológico. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1991, p. 15-39. 

MICHAELIS.Michaelis dicionário. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/busca? id=p5Mp. Acesso em: 08 de agosto de 2024. 

TSOUKAS, H. Introduction In: TSOUKAS, H. Complex Knowledge: Studies in Organizational Epistemology. Oxford. Oxford University Press, 2005. p 1-9. Disponível em: https://books.google.com.br/books?hl=pt BR&lr=&id=h8gSDAAAQBAJ&oi=fnd&pg=PR9&dq= 

TSOUKAS, H. & CHIA, Introduction: Why philosophy matters to organization theory? In: TSOUKAS, H. & CHIA, Philosophy and Organizational Theory. Bingley: Esmerald. 2011, p. 1-22


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