A Objetividade Positivista e a Administração: Limites e Possibilidades em busca de harmonia

Pequeno ensaio produzido pela acadêmica Mariana Ribeiro Pires.

Este short paper tem como objetivo analisar a influência do positivismo, especialmente a partir das ideias de Auguste Comte e Émile Durkheim, na construção de uma ciência da administração e em suas implicações para o campo administrativo. Além disso, realiza um contraponto com as ideias de Kant, que, como notas dissonantes, desafiam a harmonia da composição positivista, particularmente a respeito dos limites do conhecimento humano.

O positivismo, ao defender a observação objetiva e a busca por leis gerais, forneceu as bases para uma abordagem racional da administração, mas a transposição direta do método positivista para o campo social, marcado pela complexidade e subjetividade, apresenta limitações importantes, demandando uma adaptação crítica aos desafios contemporâneos.

Comte, em seu “Discurso sobre o Espírito Positivo”, define o positivismo como um estado de desenvolvimento intelectual da humanidade, caracterizado pela busca do conhecimento objetivo através da observação dos fenômenos e da formulação de leis gerais que os regem. Essa visão influenciou a nascente área da administração, que buscava se firmar como um campo científico e encontrar soluções racionais para os desafios da organização social. 

Durkheim, em “As Regras do Método Sociológico”, aprofunda essa perspectiva ao defender que os fatos sociais devem ser tratados como “coisas” e estudados de forma objetiva, tal como os fenômenos da natureza. Essa abordagem, baseada na observação e na experimentação, influenciou a busca por métodos de gestão mais eficientes e racionais, como a administração científica de Taylor, que visava otimizar o trabalho a partir da análise dos tempos e movimentos, assim como uma orquestra onde cada músico toca no tempo certo, a ciência como a maestrina que ajustaria cada movimento para que tudo funcione de forma eficiente e harmoniosa. 

É nesse ponto que as ideias de Kant, em sua obra “Crítica da Razão Pura”, se mostram particularmente relevantes para a nossa análise. Kant argumenta que o conhecimento humano é limitado pela estrutura da própria razão. Para ele, podemos conhecer o mundo não como ele é em si mesmo, mas apenas como ele se apresenta para nós através dos nossos sentidos e das categorias a priori do entendimento. 

Trazendo essa perspectiva para o campo da administração, podemos questionar a viabilidade da objetividade absoluta defendida pelos positivistas. A administração lida com diferentes melodias, com indivíduos e grupos, com suas motivações, valores, crenças e histórias de vida, aspectos subjetivos que não se encaixam perfeitamente no modelo positivista de análise.

Podemos ter como um exemplo prático comparando com a gestão de uma orquestra. A abordagem positivista buscaria identificar as melhores práticas de execução musical, baseadas em dados objetivos, como a precisão das notas, a sincronia entre os músicos e a qualidade do som. Entretanto, a motivação e a satisfação dos músicos são influenciadas por fatores subjetivos, como o ambiente de ensaio, o estilo de regência, o significado que a música tem para cada indivíduo e as relações interpessoais entre os membros da orquestra, fatores esses complexos e nem sempre passíveis de mensuração. 

Em síntese, o positivismo, especialmente a partir das ideias de Comte e Durkheim, forneceu as bases para uma abordagem racional da administração, fundamental para a consolidação da área. No entanto, a complexidade dos fenômenos sociais exige uma adaptação crítica dessa perspectiva. 

A administração, enquanto campo de conhecimento e prática, deve buscar um equilíbrio entre a objetividade e a sensibilidade para lidar com as dimensões humanas e sociais da organização, reconhecendo os limites do método positivista e buscando abordagens mais abrangentes para os desafios contemporâneos, como uma sinfonia que harmoniza a precisão dos instrumentos com a emoção da melodia. 

 Fonte: https://www.boomplay.com/songs/169660772

Referências: 

KANT, I. Crítica da razão pura. 4.ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2015. Revista Mente, Cérebro e Filosofia Kant- Hegel v. 3, jan 2005, p. 1-17. 

COMTE, A. Discurso sobre o espírito positivo. Porto Alegre: Editora Globo; São Paulo: Editora da USP, 1976. 

DURKHEIM, E. As Regras do Método Sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 2007
 

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