Pequeno ensaio produzido pela acadêmica de doutorado Marília Ribas Machado.
Neste short paper são abordadas as limitações sobre a dialética idealista de Hegel e possibilidades para além do idealismo proposto, através do materialismo de Marx.
Kant, em sua concepção de idealismo, elabora a chamada revolução copernicana, que determina que o sujeito passa a ser colocado no centro do mundo, isto é, o sujeito não espelha o objeto, mas este depende do sujeito (PADOVANI, 1990). Embora Hegel tenha vivido em um momento posterior ao iluminismo, ele fundamenta alguns de seus pensamentos à luz da teoria proposta por Kant, principalmente no que se refere ao posicionamento do sujeito em relação ao objeto nos fenômenos. Na concepção Hegeliana, a ideia põe o mundo em movimento, de modo que o homem é o produtor da realidade. E todo o real é, pois, da ordem do pensamento (FOULQUIÉ, 1989).
Em Hegel o pensamento é um processo autônomo, ou seja, a realidade nada mais é do que o fenômeno exterior por si mesmo. Considera-se, ainda, que o pensamento supõe ao mesmo tempo, identidade e contradição. Sob essa perspectiva, a contradição é a raiz de todo o movimento; e a contradição da coisa em si possibilita o movimento para a impulsão de uma mudança (FOULQUIÉ, 1989).
Nesse sentido, a dialética proposta por Hegel é mais idealista, de modo que o processo dialético da realidade não é mais do que uma manifestação da ideia exteriorizada no mundo. Sua dialética é chamada de “teoria da conciliação dos contrários”, de modo que, para Hegel, acontece em três momentos: tese – antítese – síntese, ou seja, afirmação/proposição, contradição e negação da contradição. A tese poder ser entendida como o momento da afirmação; a antítese é o momento da negação da afirmação, gerando a tensão que origina a síntese; e a partir da síntese determina-se a dialética, conhecida como um movimento contraditório que suscita a própria negação, que uma nova síntese irá superar, e assim indefinidamente (FOULQUIÉ, 1989; NOBREGA, 2005).
Em oposição, para Marx não são as ideias que governam o mundo, pelo contrário, as ideias dependem das condições econômicas e da matéria, que dessa maneira explicam a história (FOULQUIÉ, 1989). O entendimento dos fenômenos emerge das estruturas econômicas da sociedade e elas constituem o real, de modo que o real é produzido através do cruzamento das ações sobre o indivíduo e das reações produzidas a partir disso (FOULQUIÉ, 1989; ZAGO, 2013).
Fonte: Ausomeawestin (2014). |
Marx desenvolve a dialética segundo a concepção materialista e não idealista. A dialética materialista determina que as forças produtivas e econômicas são as responsáveis por determinar a realidade e é nos meios de produção que ocorrem as contradições da sociedade. Nesse sentido, para ele, o mundo material existe independentemente de todo o espírito e é na matéria que se produzem as teses e as antíteses, que levam às sínteses provisórias (FOULQUIÉ,1989; MARX e ENGELS, 2007).
Ao contrário de Hegel, para Marx, a ciência não é somente a contemplação ou compreensão do fenômeno, mas a ciência deve ser um conhecimento capaz de traduzir-se em uma técnica, ou seja, capaz de produzir algo mais concretizado (FOULQUIÉ,1989). O materialismo marxista, portanto, é um anti-idealismo, e sua tese é de que a realidade existe independentemente da consciência humana que a reflete (FOULQUIÉ, 1989). Enquanto a dialética de Hegel desce do céu à terra, a dialética de Marx vai da terra ao céu (MARX e ENGELS, 2007).
Nesse sentido, é possível observar que a dialética proposta em Marx é menos idealizada e mais voltada para a realidade, é mais pensada e analisada do que somente compreendida ou contemplada como a dialética de Hegel. Marx demonstra a realidade social por meio das condições de produção e reprodução da existência das pessoas. Desta forma, situando o real a partir de mudanças no processo histórico da sociedade, considerando a relação sujeito e objeto, no sentido de que o sujeito produz ações no meio social que faz parte e os elementos da sociedade também promovem ações sobre o sujeito.
Referências:
FOULQUIÉ, P. A dialética. Lisboa: Europa - América, 1978.
MARX, K. e ENGELS, F. A ideologia alemã: crítica da mais recente filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do socialismo alemão em seus diferentes profetas 1845- 1846. São Paulo: Boitempo, 2007.
NÓBREGA, F. P. Compreender Hegel. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2005.
PADOVANI, U. CASTAGNOLA, L. O criticismo Kantiano. In: PADOVANI, U. CASTAGNOLA, L. História da filosofia. São Paulo: Melhoramentos, 1990.
ZAGO, L. H. O método dialético e a análise do real. Kriterion, Belo Horizonte, v. 54, n. 127, junho 2013, p. 109-124.
AUSOMEAWESTIN. [Ilustração de Marx lançando a filosofia de Hegel. Mas também, Marx intimidando Hegel e pegando seu dinheiro do almoço.] 06/03/2014. In: AUSOMEAWESTIN. Marx’s Critique of Hegel (and money, suffering, and March Marxism). Disponível em:
https://ausomeawestin.files.wordpress.com/2014/03/gwfh-vs-m.jpg. Acesso em: 10/07/2020.
Nenhum comentário:
Postar um comentário