Ao falar, ouvir, ler ou simplesmente pensar na palavra experiência, me remeto automaticamente à experiência, que até o presente momento, mais mudou a minha visão de mundo e me tornou, de certa forma um estranho assim que voltei à minha terra de origem, o meu intercâmbio de ensino médio nos Estados Unidos. Ao voltar para o país de origem após um período de estudos no exterior, experienciando diversos fenômenos culturais, sociais e educacionais, viramos pessoas “chatas”
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Figura 1 – Autor e
host family no
deserto da Califórnia em 2007
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Neste contexto, considerando o grande impacto das experiências vividas em um período de estudos no exterior, gostaria de explorar, junto à fenomenologia, o processo de choque cultural reverso. Este processo é o reajuste, readaptação e assimilação cultural, social e educacional de uma pessoa tem ao voltar ao seu país e realidade de origem, após um período de estudos e vivência no exterior. Segundo Carlise-Frank (1992), este processo pode ser vivenciado e experimentado em intensidades diversas, alguns indivíduos podem sentir pouco o quase nenhum choque cultural reverso, alguns sentem por um curto prazo de tempo e outros demoram anos ou nunca se recuperam deste processo. Gaw (2000) identifica na literatura alguns sintomas ou problemas associados ao choque cultural reverso incluem problemas acadêmicos, conflito de identidade cultural, isolamento social, depressão, ansiedade e dificuldades em relações interpessoais, alienação, desorientação, estresse, raiva, hostilidade e descriminação.
Entre os inúmeros fenômenos que podem acontecer durante uma vivência no exterior, vale destacar que o choque cultural reverso é somente um deles, dentro de um universo infinito de prós e contras de uma experiência assim. Podemos considerar o processo do choque cultural reverso como um fenômeno social, como esclarece Schutz (1979), que explica que todo momento da vida de uma pessoa é uma experiência determinada em que esta está inserida, sendo o ambiente físico e sociocultural definido por esta pessoa, dentro do qual ela tem sua própria posição física, moral e ideológica. A experiência pode ser descrita como a relação entre a pessoa e seu mundo. A figura abaixo ilustra bem a entrada na fase de choque cultural reverso, que pode ser identificada no ítem 6, assim como as fases de recovery e adjustment, que são as fazer de readaptação à realidade local.
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Figura 2 - Fases de ajuste durante e após vivência no
exterior
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Dentro do âmbito acadêmico, podemos considerar o choque cultural reverso como mais um dos fenômenos que os estudantes devem enfrentar durante suas jornadas educacionais que podem durar por décadas e até por uma vida inteira, caso sigam a carreira acadêmica. Presbitero (2016), coloca a crítica de que as instituições de ensino deveriam ter programas mais adequados de aconselhamento para seus estudantes, pré e pós experiência internacional, mesmo que estes sistemas de suporte já existam, é colocado que o trabalho nesta área deve ser mais proativo, garantindo que estes serviços cheguem àqueles que precisam do mesmo. Assim, fica a reflexão à preocupação que não deve ser só de enviar estudantes para o exterior e receber estudantes de fora como números focados em rankings e classificações, mas também ter um sistema de suporte para as pessoas que passam por este tipo de experiência que retornem com a sua saúde mental em ordem, para que o conhecimento adquirido no exterior tenha validade.
Referências:
CARLISLE-FRANK, P. L. (1992). The relocation experience: Analysis of factors thought to influence adjustment to transition. Psychological Reports, 70.
CHRISTOFI, V.; THOMPSON, C. L. You Cannot Go Home Again: A Phenomenological Investigation of Returning to the Sojourn Country After Studying Abroad. Journal of Counseling & Development, v. 85, n. 1, p. 53–63, 2007. Disponível em: <http://0 search.ebscohost.com.umhblib.umhb.edu/login.aspx?direct=true&db=eue&AN=508024872&site=ehost-live>. Acesso em: 16/10/2018
GAW, K. F. Reverse culture shock in students returning from overseas. International Journal of Intercultural Relations, v. 24, p. 83–104, 2000.
HUSSERL, E, A ideia da fenomenologia. Lisboa: Edições 70, 2008. Trechos selecionados.
PRESBITERO, A. Culture shock and reverse culture shock: The moderating role of cultural intelligence in international students’ adaptation. International Journal of Intercultural Relations, v. 53, p. 28–38, 2016. Elsevier Ltd. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1016/j.ijintrel.2016.05.004>. Acesso em: 16/10/2018.
SCHUTZ, A. Fundamentos da Fenomenologia. In: WAGNER, H. R Fenomenologia e Relações Sociais. Textos Escolhidos e Alfred Shutz. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.
SCHUTZ, A. Don Quixote e o Problema da Realidade In: LIMA, L. C. Teoria da literatura e suas fontes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
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